3 de abril de 2010

Um pouquinho de Drummond.


pois se de tudo fica um pouco, por que não ficaria um pouco de ti? no
trem que leva ao norte, no barco, nos anúncios de jornal, um pouco de
ti em Londres, um pouco de ti algures? na consoante? no poço? por que
és tu. quem, com apenas duas mãos, reproduziria o sentimento do mundo?
quem, com tanta serenidade, ficaria sentado, contemplando um mar de
pessoas na calçada? quem suportaria o frio das madrugadas, ouvindo o
som manso das ondas que se quebram, sem poder, ao menos, molhar a barra
da calça? quem deixaria que lhe levassem os óculos, uma, duas ou tres
vezes, sem perder o foco? quem seria capaz de morrer de amor e, ainda
assim, permanecer imortal?


Drummond

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